Sinta-se em casa...

Eu quero beber a sua alma!
Sentir o seu sabor embebido em mistério...
Consumir a linguagem e
amargar a saliva no fel imaginário!

terça-feira, 5 de maio de 2020

FLASH! - jornal

FLASH!



Meus poros exalam euforia!
Um simples momento de evidência daquela partida...
Nem me recordo do momento em que nos despedimos a última vez.
Me recordo sim, das dores imensas causadas nas minhas entranhas, hoje cicatrizadas pelo tempo, que soube costurar cada motivo do distanciamento e dar novos destinos às nossas vidas, que seguiram sem olhar atrás.
Mas o conhecimento é irreversível e por mais que se queira e o tempo passe, os flashes irrompem a memória e haja dor no peito para suportar a saudade causada pela distância, do tempo, dos quilômetros em si, da ausência e do "esquecimento".
Tem coisas que não adianta, por mais que se queira, ficam martelando na mente. Os momentos bons que passamos juntos, sempre em harmonia, com delicadeza, com sabor de quero mais em todos os dias dos nossos encontros.
Aquele seu sabor, "hummmmm" inebria só de pensar, tem gosto de profundidade e prazer infinito, inexplicável!
Nossos momentos sempre foram recheados que coisas boas, olhares mágicos, toques macios, cumplicidade e carinho. Uma sinergia enorme, uma ligação de almas preponderantes ao bem viver; tão salutar, que ao nosso redor só existia um composto de plena felicidade, algo mútuo, interior...
Diga-se de passagem, assim que se iniciou nossa história: um olhar fulminante ao descer as escadas e você ao piano. Senti minhas pernas tremerem e não entendi nada, pensei estar louca, nunca havia sentido isso antes, uma atração fatal, que ficou impregnada na minha cabeça. Quando eu voltei, toda sem jeito, tentei desviar meu olhar dos seus, mas esses me devoraram intensamente. Olhar fixo, penetrante, pequenos, verdes, simplesmente lindos! :)
Você dedilhava o piano com uma voracidade e a cada nota meu corpo bailava na intensidade de conhecer-te.
Estava com amigos, não me recordo muito bem quais, pois isso faz muito tempo já e minha memória não tão boa como a sua, já não funciona a contento, o que fico deveras chateada, pois são coisas que para mim não deveriam ser deletadas nunca, pelo encantamento e magia da situação.
Só sinto a loucura que foi, quando de repente você deu um intervalo e me chamou.
Uauuuuuuuu!!! Aí sim, pensa numa perna tremendo! Se eu desmaiasse ali naquele momento pareceria normal. Ao refletir meus olhos nos teus, a luz incidiu intensamente e penetrou imediatamente em nossos corações. Nossos laços estavam ligados!
O nosso primeiro contato foi feito de magia, os corpos juntos se sentiam únicos e não queriam se soltar mais. Não tivemos medo! Nos entregamos a paixão lasciva e nos sentimos livres para amar. Uma paixão maluca, dessas que nascem para ficar impregnada na lembrança e não sair mais. Que por vezes irrompem a memória e nos fragiliza no termo saudade, que rasga o peito numa fração de segundos e fere a delicadeza de nosso cotidiano, sem respostas...
Não existe coisa melhor, do que sentir o corpo leve, a vontade de estar com a pessoa amada o tempo todo. Não querer desgrudar, lançar-se de forma natural aos movimentos fluídos, sentir o torpor dos toques na pele eriça.
Como traduzir todos esses momentos que a mente incita e joga em nossa cara, como se de alguma forma, ela pudesse apaziguar algo, sendo que no final, o que mais faz é salientar uma vontade inequívoca de ser e estar, que já não existem?
Ah! O termo saudade foi o melhor que se conseguiu traduzir em nossa língua portuguesa. Passado o “insight”, tudo volta ao normal e seguimos a vida, no que ela veio nos oferecer, pois do passado, só nos resta mesmo é abrir as gavetinhas, olhar o que tem dentro, vasculhar, separar o que se tornou inútil, reciclar e mais uma vez fechá-la, para a próxima necessidade de procurar algo ali.



Elaine Alencar
Membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras