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O trem
Apressada
chegou ao guichê e pediu o destino...
Dirigiu-se à plataforma,
Olhou aos lados e não viu uma alma
sequer...
Todos os bancos estavam vazios,
Não precisou de muito esforço para
recostar-se em um.
Acomodou a bagagem ao seu lado,
Abriu a maleta e pegou seu livro.
Um olhar absorto levou-a ao longe,
Perdeu-se nos pensamentos e
permaneceu atônita...
Viu um quadro ser pintado à sua
frente,
Um campo vasto e ao fundo uma
casinha de sapé...
Estava tão distraída que não
percebeu a aproximação da locomotiva...
Levou um grande susto ao ouvir o
estrondo do apito.
Levantou-se desengonçada, entrou no
vagão como se estivesse sendo jogada para frente, um solavanco da partida, a
fez sentar n’um banco vazio ao lado de um senhor esbelto e elegante, com seu
óculos na ponta do nariz, fazendo tipo de intelectual...
Freneticamente fez-se arrumar, toda
desengonçada, arranjando as saias num movimento sensual...
Sem jeito, ali permaneceu imóvel,
não entendendo o que lhe reservava o destino...
Sofregamente suas mãos buscam algo
dentro de sua bolsa para poder distrair a longa viagem, já que seu livro fora
colocado junto com a bagagem no pavimento superior às suas cabeças.
O senhor ao seu lado sentia-se
absorto com seu jornal, dando a entender que as notícias eram mais importantes
companheiras naquele momento.
De tanto procurar encontrou seu
livrinho de orações e foi compenetrada lendo e relendo os salmos...
Não sei precisar o momento, em que
suas vistas conseguiram enxergar o quadro pintado anteriormente em sua mente...
Ficou imóvel e não tinha palavras
para descrever seu contentamento.
Como pode isto acontecer?
O mesmo quadro que pensara a alguns
minutos atrás poder se materializar daquela forma, tão perfeita e absoluta...
Balbuciou umas palavras: - Lindo!!!
Que automaticamente o senhor ao seu
lado, sem jeito, perguntou:
- Como?
Ela, muito mais sem jeito, se
arrumou no banco e disse:
- Ahn? O que?
- A senhora disse algo...
-
Ah... sim é que... - e assim começou a contar-lhe o que se passava, tentando
descrever com detalhes, a pintura que vira a alguns minutos em sua espera na
plataforma...
Não entendia, pois, que o que aquilo
significava, como poderia ter previsto tal cena, sendo que nunca houvera
passado naquele local. Ficou absorta tentando encontrar os motivos. Seria um
delírio? Teria sido um sonho? O que teria sido aquilo?
O senhor prestava atenção, agora,
nas falas daquela criatura que ia encantando sua viagem. Ele transportou-se
longe, só no balançar dos trilhos e na voz suave da mulher que ao seu lado
mostrava-se neste momento mais a vontade, parecendo que eram velhos conhecidos
de anos.
A viagem transcorreu serena e cheia
de troca de informações, os assuntos foram dos mais variados, até mesmo
chegarem no momento do próximo encontro. Já que entremeios as conversas
descobriram serem os dois livres, e à procura.
Simplesmente este foi o primeiro
encontro de muitos anos vividos juntos.
Elaine Alencar - É membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras
Texto publicado na Folha da Região na data de 05/06/2013 - Coluna Soletrando - Caderno Vida