Sinta-se em casa...

Eu quero beber a sua alma!
Sentir o seu sabor embebido em mistério...
Consumir a linguagem e
amargar a saliva no fel imaginário!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Trem

            
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            O trem
            Apressada chegou ao guichê e pediu o destino...
            Dirigiu-se à plataforma,
            Olhou aos lados e não viu uma alma sequer...
            Todos os bancos estavam vazios,
            Não precisou de muito esforço para recostar-se em um.
            Acomodou a bagagem ao seu lado,
            Abriu a maleta e pegou seu livro.
            Um olhar absorto levou-a ao longe,
            Perdeu-se nos pensamentos e permaneceu atônita...
            Viu um quadro ser pintado à sua frente,
            Um campo vasto e ao fundo uma casinha de sapé...
            Estava tão distraída que não percebeu a aproximação da locomotiva...
            Levou um grande susto ao ouvir o estrondo do apito.
        Levantou-se desengonçada, entrou no vagão como se estivesse sendo jogada para frente, um solavanco da partida, a fez sentar n’um banco vazio ao lado de um senhor esbelto e elegante, com seu óculos na ponta do nariz, fazendo tipo de intelectual...
            Freneticamente fez-se arrumar, toda desengonçada, arranjando as saias num movimento sensual...
            Sem jeito, ali permaneceu imóvel, não entendendo o que lhe reservava o destino...
            Sofregamente suas mãos buscam algo dentro de sua bolsa para poder distrair a longa viagem, já que seu livro fora colocado junto com a bagagem no pavimento superior às suas cabeças.
            O senhor ao seu lado sentia-se absorto com seu jornal, dando a entender que as notícias eram mais importantes companheiras naquele momento.
            De tanto procurar encontrou seu livrinho de orações e foi compenetrada lendo e relendo os salmos...
            Não sei precisar o momento, em que suas vistas conseguiram enxergar o quadro pintado anteriormente em sua mente...
            Ficou imóvel e não tinha palavras para descrever seu contentamento.
            Como pode isto acontecer?
            O mesmo quadro que pensara a alguns minutos atrás poder se materializar daquela forma, tão perfeita e absoluta...
            Balbuciou umas palavras: - Lindo!!!
            Que automaticamente o senhor ao seu lado, sem jeito, perguntou:
            - Como?
            Ela, muito mais sem jeito, se arrumou no banco e disse:
            - Ahn? O que?
            - A senhora disse algo...
            -  Ah... sim é que... - e assim começou a contar-lhe o que se passava, tentando descrever com detalhes, a pintura que vira a alguns minutos em sua espera na plataforma...
            Não entendia, pois, que o que aquilo significava, como poderia ter previsto tal cena, sendo que nunca houvera passado naquele local. Ficou absorta tentando encontrar os motivos. Seria um delírio? Teria sido um sonho? O que teria sido aquilo?
            O senhor prestava atenção, agora, nas falas daquela criatura que ia encantando sua viagem. Ele transportou-se longe, só no balançar dos trilhos e na voz suave da mulher que ao seu lado mostrava-se neste momento mais a vontade, parecendo que eram velhos conhecidos de anos.
            A viagem transcorreu serena e cheia de troca de informações, os assuntos foram dos mais variados, até mesmo chegarem no momento do próximo encontro. Já que entremeios as conversas descobriram serem os dois livres, e à procura.

            Simplesmente este foi o primeiro encontro de muitos anos vividos juntos.

Elaine Alencar - É membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras
Texto publicado na Folha da Região na data de 05/06/2013 - Coluna Soletrando - Caderno Vida